terça-feira, 22 de maio de 2012

Que bicho estranho!

             Primeiro ele chega  como um estranho, te rouba um olhar desconfiado. Em seguida alcança um sorriso seu, meio sem entrega. Vai se achegando em meio aos galhos e as telas. Em passos leves, pisa de mansinho, e vai embora. 
            Depois volta novamente, repete os gestos e você retribue.
            Outros dias se seguem, e agora não mais tão estranho, te toma pelas mãos, lança-se sobre teu corpo, num abraço envolvente; te toma por inteiro, venda teus olhos com uma película suave e translúcida; desfaz a cor deles, e te estampa o coração. Como que por magia te faz criar asas, como uma águia te leva as alturas, como uma pluma te faz flutuar; te segue por todos os lados, te encontra em qualquer parada, espera em você, sobrevive de você, você se lança, se doa. Sem sua visão primária, vê o mundo que ele te mostra, e entrega o mundo que ele quer... Dominado, corre livre como as águas dos rios, contornando as pedras, sobrepondo algumas e continua seu destino, seguro de que está seguro.
        Você desliza, tal qual uma pedra num barranco, tocada pela ação da natureza. Ele franze a testa, te olha por detrás da venda que em ti colocou, adentra no seu eu, espeta-lhe a alma, sangra-te o coração, poda tuas asas de dentro pra fora, então você cai e chora; ele se vira e vai embora, suas lágrimas se misturam as águas sem destino dos rios, você olha para trás e se pergunta: - Que bicho estranho é esse?
         Esse bicho não é um leão, não é uma serpente, não é uma águia, esse bicho: é o homem! O bicho mais enigmático do planeta!

(Publicação/autoria: Rosilene S. Oliveira-maio/2012)