sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Que se danem os críticos, a dor é minha, só minha!


                                Uma jornada de nove meses!

                  Meu filhinho querido, espero que esteja bem, nunca me esquecerei de você!
             Meu coração está com uma ferida do tamanho do mundo, de repente meu melhor e maior sonho se tornou um pesadelo. Em uma semana vivi os piores dias da minha vida, o medo de não poder ter um filho se tornou real, e quando num momento eu estava vivendo a melhor experiência, no outro tudo se transformou. Jamais esquecerei aquele dia 10 de agosto, quando não senti o meu bebezinho se mexer, era tão esperto, não sossegava um minuto, mas naquele dia de 1997 você ficou imóvel, meu coração ficou apertado, então chorei muito, pedi à Deus que não o levasse, não havia dor física, apenas um pressentimento ruim. Não dormi à noite, fiquei ansiosa para que o dia amanhecesse logo. Na manhã seguinte bem cedo fui a casa da minha mãe, que me levou ao hospital, na garupa da minha bicicleta, pois não tinha carro e seu pai tinha saído mais cedo para o trabalho. No hospital tive a triste confirmação, ao ouvir que o médico disse, frio e alheio a minha dor: " não consigo ouvir o coração dele, acho que veio a óbito", essas palavras caíram como uma bomba! Pediu que outro médico fizesse outra ecografia e o resultado foi o mesmo. Entrei em desespero total, gritei, chorei, depois fiquei estática, uma inércia inexplicável, sai de mim, senti que morri naquele momento. Deus te levou de mim, antes que eu pudesse dar-lhe a luz, você não me viu, não senti seu calor, não o puseram nos meus braços, não senti sua respiração, qualquer reação, apenas o vi no caixão, tão pequenino, parecia forte, meu primeiro bebê, já estava pronto, dentro dos seus nove meses, o que deu errado? Te cuidei com tanto amor. Nunca tive essa resposta, também não estive viva pra procurar respostas! Nada o traria de volta. Eu achava que estava pronta para ser mãe, mas talvez Deus achasse que não, ou estivesse nos poupando de sofrimentos maiores, ou me pondo à prova, demorei muito para ter esse entendimento. A dor me acompanhou de pessoas boas, minha família, meus amigos, muita solidariedade.
             Hoje me consolo em saber que está protegido como um anjo do céu, olhando por nós. Talvez aqui não seria tão feliz. Como um simples mortal fico com minha fé, tentando achar uma resposta para meu conforto. Penso que Deus me presenteou com a dádiva de ser mãe, ensinando-me o verdadeiro significado do amor. Depois de sua partida, com o coração um pouco mais fortalecido, pedi ao Pai que me concedesse novamente a bênção da maternidade, não conseguiria sobreviver a uma casa vazia, sobre o luto da sua ausência. Nove meses depois eu estava esperando sua irmã, foi uma espera temerosa, mas correu tudo bem. Após nascida, veio seu irmão, novamente nove meses depois. Resolvi anos depois,  não pedir mais a Deus por outra concepção, já havia sofrido temores demais. Eles estão com 12 e 13 anos, e você faria 15 anos amanhã, com certeza três filhos maravilhosos, muito abençoados!
          Perdoe minhas lágrimas, meu pequeno Adson Vinícius, elas nunca se acabaram, apenas cessam para o descanso da minha alma!




( Escritos de 1997/ reescrito em 10/08/12, por mim: Rosilene S. Oliveira/ imagem web)


Saudade... doe no coração!

          


           A Saudade regada com as lembranças, fixa suas raízes no meu coração e uma dor imensa inunda meu peito, varrendo pra longe a felicidade que um dia senti.
          Ás vezes fico a pensar no sentido da vida, todos sabemos que ninguém é eterno fisicamente, todos chegamos e parimos, cedo ou tarde, porém, conformar com a perda é impossível, convive-se com  ela, não há outra solução. Guiados pelas mãos de Deus, seguimos em frente, levando na bagagem tristezas e algumas alegrias. Sem essas mãos, certamente pararíamos, abaixaríamos a cabeça para a vida, permitindo que o sofrimento a levasse. Muitos não aceitam essas mãos, mas eu sim, hoje vejo que não fosse por elas, esse momento não existiria. Contudo, na condição de ser humano, simples mortal, não posso ignorar os sentimentos terrenos, a matéria, tê-lo perdido, foi perder um pedaço muito grande de mim, sei que está bem   protegido, mas sinto muito sua falta.
         A  vida nos ensina muitas coisas, nos põe à prova a todo instante, num momento nos enche de alegrias e realizações, no outro é só tristeza; nos faz fortes, guerreiros para defender aqueles que amamos, porém diante de tamanha perda, nada se pode fazer, então nossa insignificância se acentua, não há como lutar, nem todo dinheiro do mundo é suficiente para lutar contra o fim! Então, tudo que resta é imortalizar a quem amamos dentro do coração. Isso é tudo que posso lhe fazer, meu amor eterno. Havia tanto  mais para lhe falar, lhe ensinar, contava cada minuto da sua chegada para tê-lo nos meus braços, sentir seu cheiro, olhar nos teus olhos azuis como o céu de tantas manhãs ensolaradas...
          Até o momento que soube de sua existência não conhecia o verdadeiro significado da palavra: AMOR, tampouco de felicidade, que é muito além de construir uma família, conheci, vivi, e perdi, nesse momento soube que quais outras perdas futuras seriam pequenas, indolor, diante dessa... Poder sentir essa vida crescendo dentro de mim foi a maior prova do amor e da bondade de Deus, e a certeza da beleza da vida! Sonhei tanto contigo, esperei imensamente o momento de sua chegada, queria ouvir seu choro, seu coração batendo sobre o meu peito, enchê-lo de mimos, queria ter podido segurá-lo nos meus braços, mas eu estava amarrada naquela cama de hospital, topada para não enlouquecer e querer ir junto com você, tudo que pude foi tocá-lo com uma das mãos, por alguns segundos, olhá-lo fixamente, admirando como era lindo e puro, até que o levaram para sempre, deixando comigo um resguardo solitário, vazio e doloroso!!!

(Rosilene S. Oliveira/ 1998 - imagem-web)