terça-feira, 10 de julho de 2012

Adaptado para jovens desnorteadas.





SILÊNCIO NEGRO
       "  Mãezinha, eu estou aqui neste lugar, tão frio, tão feio, tão só, não posso me mover, nem falar, só me lembrar de quando você e papai se amaram tanto, tão profundamente, quando se queriam apaixonadamente, contudo eu não estava em seus planos, em nenhum momento pensaram em mim, não me planejaram, não esperaram, não me amaram; então porque mãe? Por que deixou que eu me tornasse um embrião, me concedeu o tempo de me transformar em um feto, me alimentar do teu sangue, respirar por você, sentir teu calor me envolvendo, sentir meu  coração batendo? Ainda sem ser ninguém já podia sentir sua dor, seu medo, sua infelicidade e ficava bem quietinha para não te incomodar, e você nem me tocava com carinho; puxa mamãe por que me fez isso? Eu poderia Ter sido sua melhor amiga, te consolar da dor, ser tudo de bom, eu faria tudo, tudo. E quando fosse grande ajudaria você com os serviços de casa, não iria nem comer muito para não faltar o alimento do dia seguinte,  não me encomodaria em ser pobre, nem estudar em escola pública, seria boazinha e caridosa com todo mundo e ti ajudaria a conquistar o papai. Eu nunca faria má-criações, seria o seu orgulho, não me importaria com os outros, só queria que me amasse, que me esperasse como todas as outras mamães. Hoje vejo no teu rosto uma certa infelicidade, pois está tão só quanto papai e eu. Ele está longe, nunca quis saber de mim, tudo bem ele eu entendo, tinha outros planos, era jovem, bonito, queria Ter muitas mulheres, mas não é justo, não é justo mamãe, não é justo. Você que me deu a vida, que me sentiu, foi justamente quem não me quis; estava tão preocupada com sua beleza, com sua juventude, queria tanto ser alguém, Ter dinheiro, uma carreira brilhante, que não sobrou nenhum tempo para mim. Eu poderia Ter sido tão importante para você, nem me revelaria sua filha, se assim quisesse para manter sua aparência eu faria qualquer coisa, só pra te ver feliz e jamais te abandonaria se o mundo lhe virasse as costas, jamais a condenaria de alguma coisa, de Ter tentado um momento de felicidade, mas você não quis nada disso e permitiu que me colocasse aqui, neste vidro tão pequeno, cheio de álcool, a título de pesquisa, nem para a terra me concedeu o lugar. Só no céu Deus, meu Pai me acolheu, e aqui fico e pergunto sempre, em meio a tanto padecimento: Por que não me amou? Por que não me quis? Por que não me protegeu? Se ainda era tão pequena e indefesa. Por que não me deixou viver? Por que me matou? Por que me abortou???""

(Releitura. Rosilene S. Oliveira/ 1998- imagem web                   )

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Rosilene Oliveira